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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cartas para Julie Andrews

Querida Julie,

Comecei a escrever esta carta umas quinze vezes e não conseguia ir adiante, pois sempre parecia melodramática demais, boba demais, mal escrita demais, longa demais, atrasada demais (faz mais de dois meses que o ocorrido ocorreu), mas quando fui registrar Cartas para Julieta na minha lista dos últimos assistidos, percebi que ainda não havia perdoado o filme por ser tão decepcionante (mau filme! MAU!).

Imagine que tem um filme que você sabe que é bom pois já assistiu em casa, mas que quer muito ver no cinema, pois você tem uma crush pela Emily Blunt a fotografia é belíssima e digna de tela grande. Imagine que você se abalou até o shopping que você mais odeia na cidade, numa segunda às 19h só pra ver este filme na sessão das 22h. Que você pagou quase R$30 pra jantar uma porção de arroz, legumes e feijão cheio de linguiça, mesmo já tendo avisado o garçom da Petiskeira que não come carne. Imagine que depois de três horas circulando por um lugar que te deprime a moça da bilheteria te diz que não podia ter vendido o ingresso pra Jovem Rainha Vitória porque a pré-estréia já tinha acabado e que ela podia devolver o dinheiro ou trocar por outro filme. Imagine que a Amanda Seyfried está te encarando com um sorrisinho no poster de Cartas para Julieta e você confunde isso com boas intenções.

Hihihi otária.

O que dizer de um filme quando, logo na primeira cena, na cena que ainda não diz nada sobre a história e tudo que você vê é a mocinha de costas falando no celular, atravessando (o que acho que é) o Central Park, ao som de uma trilha sonora instrumental genérica que posteriormente será lembrada apenas como "violinos ao fundo" (independente do intrumento que estivesse tocando), logo neste momento, você já sabe que vai ser uma sessão sofrível? Claro que o fato de eu já estar frustrada por não estar vendo o filme que queria não colaborou com minha boa vontade, mas o fato é que este filme não tem nada que o recomende além do que poderia ter sido se a idéia central (a carta escrita há 50 anos e nunca respondida) fosse melhor explorada. Tudo em que eu pensava no momento era "por que não escolhi Toy Story 3?"

A heroína, Sophie, logo de início dá a impressão de ser uma bundona (ou, nos padrões Amanda Seyfried, uma peitona), tanto no lido com seu chefe quanto com seu namorado, o ítaloamericano(?), Victor, interpretado por Gael Garcia Bernal(!). Ai Gael. Por que me decepcionas assim? Ele faz um descendente de italianos como Tony Ramos faz um descendente de qualquer coisa. Elefalarápido! E ALTO! E ele ignora a noiva na viagem pra Itália pra conhecer possíveis fornecedores pro restaurante que ele vai abrir, e depois contrata cozinheiros que não sabem a diferença entre suar e caramelizar uma cebola (é simples: quando você sua, fica com cor de caramelo? Então suar não é caramelizar!).

Abandonada pelo noivo egocêntrico, Sophie passeia sozinha por Verona e descobre a Casa de Julieta, lugar onde milhares de mulheres vão todo ano fazer exatamente o que ela deveria estar fazendo: escrever cartas para a famosa personagem de Shakespeare para se queixar de seus namorados/noivos/maridos. Intrigada, Sophie segue uma mulher que recolhe todas as cartas no fim do dia e descobre que ela é uma das Secretárias de Julieta. Ela é confundida com a tradutora do inglês que foi chamada por elas, o que acaba não fazendo o menor sentido, já que todas parecem entender bem a língua inglesa. Sophie começa a trabalhar para as Secretárias e encontra, escondida atrás de uma pedra na parede, uma carta escrita 50 anos antes, que nunca foi respondida.

A carta é de Claire (Vanessa Redgrave), que estava deixando seu grande amor, Lorenzo, para voltar para a Inglaterra. Sophie resolve responder a carta de Claire, e neste momento entramos num lapso temporal conhecido como o "efeito novela das oito", em que o tempo de mandar uma carta de Verona para a Inglaterra, esta carta ser recebida, lida e despertar em uma senhora de seus setenta anos a resolução de ir em busca de seu amor da juventude na Itália leva apenas 24h. Porque se o tempo passasse normalmente nesse universo, Sophie não estaria mais em Verona para conhecer o neto de Claire, Charlie, um rapaz mal-humorado, estúpido, com sotaque inglês artificial e que não sabe cozinhar. Obviamente, Sophie irá se apaixonar por ele. Total upgrade.

A partir daí, o filme se torna um passeio turístico pela Toscana, acompanhando a busca de Claire por seu amado Lorenzo, encontrando uma porção de velhos babões, tarados, cafonas, mortos, tudo para aumentar o suspense e fazer o expectador se perguntar se ela realmente encontrará o verdadeiro Lorenzo, como se uma negativa fosse possível numa comédia romântica mal escrita. Claire encontra Lorenzo, que chega num cavalo branco (side eye). Após uma série de mal-entendidos (side eye²), Sophie e Charlie ficam juntos e todos vivem felizes para sempre. Ou não. Irrelevante.

Cartas para Julieta é um filme pobre. É uma comédia romântica de Sessão da Tarde, na melhor das hipóteses. A trilha sonora é tosca, a fotografia não faz jus às belas paisagens da Itália, o elenco, que não é ruim, obviamente não consegue fazer grande coisa, sabe-se lá se por culpa do roteiro, da direção, ou o conjunto da obra, a história é mal explorada e os diálogos são bobos, o que me dá a mesma sensação que tenho quando assisto as novelas da Globo: que quem escreve a polpa do roteiro são estagiários frutos do Criança Esperança. Que logo você vai ver um adolescente numa vinheta da campanha dizendo, “graças à sua doação, eu escrevi Cartas para Julieta”... Em outras palavras, vale a pena ver este filme se você não estiver pagando por isso. E ano que vem não doe nem R$5, obviamente eles não estão fazendo por merecer.

Julie, obrigada por dispensar seu tempo imaginário para este desabafo. Eu não conseguiria sossegar, nem escrever qualquer outra coisa se não tivesse tirado isso do peito. Saiba que não escolhi você apenas porque seu nome soa mais do que adequado para a situação, é que pra mim você sempre foi uma figura forte e consistente (quem mais você conhece que tem o mesmo corte de cabelo há 50 anos sem nunca parecer fora de moda? E todo mundo acreditou que você era um homem simplesmente porque você quis assim!). Gosto de imaginá-la como tipo uma “vó-estepe”. Pode não parecer muito digno, mas garanto que é com carinho que a vejo assim. Obrigada por existir, Julie!


Com muito amor,

Pinu

11 comentários:

  1. Hahahahahahahahhahaha Não sei se foi porque eu não paguei para ver ou se foi porque eu queria ver o filme, mas até que gostei. Ele é bonitinho e eu queria ver algo bobinho mesmo. Mas a trilha sonora é horrorosa! E o Gael estava bêbado.

    Eu não tinha me dado conta do negócio da tradutora hahahaha Mas aquilo da mulher chegar lá em 24h foi muito tosco =P Acho que o filme tinha boas intenções...

    Adorei o jeito como tu escreveu o texto! Criativo =D E o cabelo da Julie é igual as roupas da Diane Keaton! Sempre igual, sempre lindo.

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  2. Aí é que tá! Acho que se eu tivesse ido ao cinema especificamente pra assistir esse filme e não tivesse gastado aquela dinheirama toda no Moinhos, enfim, em outra situação acho que teria gostado do filme.

    É que como eu já estava de mal humor quando comecei a ver, estava bem mais atenta aos defeitos do filme. Mas acho que o que me deixou mais frustrada ainda é que podia ser realmente um filme bom.

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  3. Acho que as circunstâncias realmente não te ajudaram, Pinu... Tu já foi de má vontade ver o filme. Mas Toy Story 3 é um filmaço, podia ter apostado nele :P

    A idéia não é ruim, mas pelo trailer tu já vê que é um filme bem clichêzão. E às vezes a gente até tem vontade de ver algo bobo e clichêzão, mas se não é o caso acaba sendo uma experiência sofrível.

    Fora que tenho um certo ranço contra filmes que começam a fazer tour por lugares bonitos, parece que é pra compensar a falta de conteúdo. "Hey, temos um diálogo murrinha, que tal colocar um cenário idílico e o Gael sem camisa?". Só que esse filme possivelmente não tinha o Gael sem camisa.

    Mas de qualquer forma, muito engraçado teu texto! A vantagem de filmes ruins é que eles sempre rendem textos bons...

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  4. Sim, a situação me ajudou a gostar. Sem falar que eu estava sonolenta. Mas pensa assim... Podia ser pior... Podia ser Spirit =P

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  5. hhahahahhahaha! Eu não vi Spirit! Pelo menos tenho isso a meu favor! xD

    E se o Gael tirou a camisa durante o filme eu deletei isso completamente da minha memória. Ou talvez o tenha registrado como o Tony Ramos sem camisa. (TENSO o_o')

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  6. Bom, eu não vou ver nenhum desses filmes
    A não ser Toy Story 3 XD

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  7. O Gael não tira a camisa pq não consegue parar de mexer os braços. E pelo menos não paguei pra ver Spirit! hahahaha (só com a minha alma)

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  8. tu só pagou com teu lugar no céu

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  9. Ah Leli, tu tinha que ver Vitor/Vitória! É Julie se transformando em homem! É mágico!

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  10. Gente, adorei! Que texto mais engraçado e inovador. Julie Andrews, nossa eterna vó-estepe, também teria achado muito engraçado!

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  11. Adorei o texto! Adoro Julie Andrews e sou do tipo que paga pra ver uns filmes clichês só pelo prazer de ir ao cinema. hahaha

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